Gisele Santos ainda se lembra do momento em que percebeu que algo estava errado. As dores de cabeça, a insônia, a dor – seu corpo estava enviando sinais que ela não podia ignorar.

A história de Gisele Santos mostra como é importante melhorar o acesso aos cuidados para diabetes nas áreas rurais do Brasil. Crédito da foto: Elisabete Pereira – Amapá, Brasil, fevereiro de 2025
“Fiz um exame de glicose no sangue e deu 540”, diz Gisele. “O médico queria me hospitalizar, mas eu estava muito longe da cidade.” Em vez disso, ela começou a tomar insulina e mudou sua dieta, na esperança de estabilizar sua condição. “Não foi fácil. Eu chorava muito. Mas eu tinha que cuidar de mim mesma.”
Gisele Santos mora em São Tomé, uma comunidade rural no norte do Brasil, onde o acesso a cuidados especializados em diabetes é extremamente limitado. Sua história não é única. Em todo o Brasil, milhões de pessoas vivem com diabetes; e muitas, especialmente nas regiões rurais, enfrentam sérias barreiras ao diagnóstico, tratamento e apoio.
Uma Crise Crescente com Acesso Desigual
O diabetes é a principal causa de morte e incapacidade no Brasil, afetando cerca de 16,8 milhões de pessoas. Mas o diagnóstico e o tratamento variam muito entre as regiões. Nas áreas rurais, os prestadores de cuidados primários substituem os endocrinologistas, gerenciando casos complexos de diabetes com pouco treinamento ou apoio.
Essa lacuna no atendimento contribui para complicações evitáveis, incluindo cegueira, insuficiência renal e amputações. Uma pesquisa nacional de saúde de 2019 revelou que menos da metade dos pacientes com diabetes recebeu exames básicos dos pés ou dos olhos – etapas essenciais para evitar resultados graves.
ECHO Leva Suporte Especializado para a Linha de Frente
Para lidar com essa disparidade, a Universidade Federal de Sergipe (UFS), uma organização experiente em implementar o modelo ECHO desde 2020, lançou o Programa ECHO-UFS Diabetes Mellitus em 2023. Desenvolvido em parceria com o Centro de Educação Permanente da Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju (CEPS) e a Secretaria Municipal de Saúde de Lagarto, esse programa faz parte do escopo dos cursos de treinamento oferecidos pela secretaria de saúde aos profissionais da atenção primária em Aracaju e Lagarto. Participantes do programa recebem crédito de educação permanente como parte de seu desenvolvimento profissional.
O Projeto ECHO conecta prestadores de cuidados primários com especialistas em diabetes por meio de sessões de treinamento virtuais e gratuitas. O Modelo ECHO “todos ensinam, todos aprendem” conecta profissionais de saúde em todo o Brasil e em outras partes da América Latina, como uma comunidade de prática com orientação contínua, onde todos os participantes aprendem, colaboram e aprimoram suas práticas de atendimento.
“O diabetes é complexo, e muitos profissionais de saúde em áreas rurais não têm acesso aos tratamentos e diretrizes mais recentes”, diz Heyne Rejane Costa, enfermeira da Unidade de Saúde da Família Dona Sinhazinha, em Aracaju, Sergipe, e participante do programa ECHO. “As sessões mudaram completamente a maneira como eu abordo o tratamento do diabetes.” Com 29 anos de atuação na atenção primária, ela está há muito tempo na linha de frente do gerenciamento de doenças crônicas. Ainda assim, as sessões do ECHO ofereceram algo novo.

A enfermeira Heyne Rejane Costa de Araújo leva cuidados humanizados para sua comunidade em Aracaju, Sergipe, através do seu trabalho na Unidade de Saúde da Família Dona Sinhazinha e no Projeto ECHO. Crédito da foto: Franciele Santana – Universidade Federal de Sergipe, Brasil, março de 2025
Casos Reais, Resultados Reais
“O mais importante para mim foi estar conectada a especialistas e discutir casos reais de nossa prática diária. Isso foi incrivelmente valioso”, diz Heyne. As sessões do ECHO incluíram aulas sobre diabetes tipo 1, diabetes na gravidez, pé diabético e risco cardiovascular no diabético.
“O programa foi muito bem estruturado. Cada tópico era claro, relevante e fácil de aplicar”, diz ela. “Recebemos até materiais didáticos, para nos ajudar a gerenciar casos e ajustar o tratamento em tempo real.”
A enfermeira Heyne agora usa o que aprendeu para educar os pacientes e ajustar os planos de tratamento com mais confiança. “É como ter uma equipe de especialistas ao seu lado”, disse ela. “Isso mudou a maneira como eu trabalho.”
A Perspectiva de um Paciente: A História de Arthur
Para Arthur Vinícius, um estudante de medicina de 20 anos com diabetes tipo 1, o acesso a profissionais de saúde capacitados fez uma profunda diferença. Diagnosticado ainda na infância, ele relembra com sinceridade os desafios enfrentados nos primeiros anos após o diagnóstico. “Foi difícil contar para as pessoas. Tinha receio da reação delas”, compartilha.
O processo de aceitação não foi simples. “Até encontrar pessoas que realmente entendessem o que eu estava vivendo, foi doloroso”, diz. Mas com o tempo, o apoio da família, dos amigos e de uma equipe de saúde qualificada ajudou a transformar sua jornada.
Atualmente, Arthur recebe seus medicamentos gratuitamente em um Centro de Atenção à Saúde em Sergipe, onde é acompanhado por uma equipe multiprofissional — muitos deles capacitados pelo Projeto ECHO em Diabetes Mellitus. Com esse suporte, ele aprendeu a adaptar a alimentação, organizar os horários da insulina e identificar sinais de hipo e hiperglicemia no dia a dia.

Arthur Vinícius usa um monitor de glicose no sangue para ajudar a controlar seu diabetes, parte de sua jornada em busca de uma saúde melhor com o apoio do Projeto ECHO. Crédito da foto: Franciele Santana – Universidade Federal de Sergipe, Brasil, março de 2025
Além do controle clínico do diabetes, Arthur pratica exercícios regularmente, faz contagem de carboidratos e conta com acompanhamento em saúde mental. “Receber um diagnóstico crônico na infância não é fácil. A mudança no estilo de vida desde cedo exige muito da gente”, reflete.
Apesar dos desafios, ele encontrou formas de lidar com a condição e segue determinado em sua trajetória. Ao escolher medicina, Arthur espera, no futuro, oferecer a outros pacientes o mesmo cuidado que marcou sua vida. “Viver com uma doença crônica sempre traz consequências”, diz ele. “Mas não é uma doença que me define.”
Treinamento que se Traduz em Melhor Atendimento
O Modelo ECHO foi projetado para democratizar o acesso ao conhecimento especializado. Ao orientar os profissionais de saúde locais, ele multiplica o alcance dos especialistas e fortalece o atendimento em nível comunitário.
Em Sergipe, já se observou uma melhora nos resultados dos pacientes: mais casos gerenciados localmente, intervenções mais precoces e mais provedores seguindo as diretrizes clínicas.
Um Caminho a Seguir para a América Latina
O sucesso do programa ECHO de Diabetes Mellitus da UFS mostra o que é possível quando a inovação encontra o compromisso local. O que começou como um piloto em nível estadual agora inclui participantes de 11 estados brasileiros e outros, sinalizando um modelo que pode ser ampliado em toda a América Latina.
Para os sistemas de saúde que enfrentam o aumento da carga de doenças crônicas, o Projeto ECHO oferece uma estratégia econômica e de alto impacto. E para os pacientes – incluindo Gisele Santos e Arthur Vinícius – ele traz a promessa de um atendimento mais próximo, mais compassivo e mais bem informado.
“Você não pode deixar o diabetes definir sua vida”, diz Arthur. “Com o apoio certo, você pode viver plenamente e ajudar outras pessoas a fazerem o mesmo.”
Para saber mais ou se envolver, visite a página da web iECHO.org do Diabetes Mellitus da UFS ou envie um e-mail para a equipe do programa.
A crescente demanda por atendimento especializado em diabetes na América Latina inspirou outros parceiros a planejar programas do Diabetes ECHO, como a SE-COMISCA na América Central, a APROSAR na Bolívia e o Ministério da Saúde da Guiana. Veja os programas ECHO de Diabetes na plataforma iECHO.
Imagem em destaque: foto do Campus São Cristóvão da Universidade Federal de Sergipe, em Sergipe, Brasil. Crédito da foto: Maria Khalsa, Projeto ECHO